O Valor da Publicidade
Os canais abertos de televisão brasileira nos são entregues sem que precisemos pagar com dinheiro por eles. Mas, de alguma forma eles ganham dinheiro, né? E muito! Muito mesmo. Mais do que você pode imaginar.
A estratégia aparentemente é simples: os canais abertos disponibilizam frações de intervalos comerciais entre as programações de entretenimento oferecidas, podendo uma propaganda de 30 segundos chegar a custar R$ 600.000,00 (isso mesmo, você leu certo, seiscentos mil reais em 30 segundos). Apenas como exemplo, esse é o valor do intervalo comercial do Fantástico, nas noites de domingo pela rede Globo, segundo os Bastidores da TV.
Mas aí, basta pensarmos um pouco. Por que alguma empresa, com diretores em sã consciência, iria investir esse valor tão alto em 30 segundos (ou mais) de publicidade para mídias gratuitas?
Claramente por que o retorno compensa. É como se a empresa contratasse alguém para bater na porta e tentar vender algo para 1 milhão e 400 mil residências ao mesmo tempo, porém de uma forma muito mais eficiente, prática e barata. Falar sobre a rentabilidade da publicidade na TV já daria outra postagem por si só, mas esse não é o foco agora.
Com as mídias sociais, a regra é a mesma. Não precisamos pagar nada para usufruir dos recursos de Facebook e Instagram por exemplo e, em troca, somos constantemente expostos a publicidades. Publicidades estas que são custeadas por empresas terceiras com valores bem variados, mas também podendo ser bem altos quanto os da TV aberta.
O ponto que quero chegar é: será mesmo que esses são negócios que acontecem apenas entre as empresas e nós somos beneficiados sem algum ônus qualquer?
Pagamento Sem Dinheiro
Bom, a resposta é: não.
O telespectador e os usuários de redes sociais pagam sim, mas de uma forma diferente. O pagamento é com a atenção dada quase de forma involuntária às propagandas e, para as emissoras e empresas de redes sociais cobrarem tão caro, o que entregamos a eles deve ser muito valioso, né? E é mesmo.
Ao ficarmos rolando a linha do tempo do Instagram, a do Facebook ou ao assistirmos a TV, nós entregamos nosso tempo e nos deixamos ser influenciados. Tudo o que vemos ali é absorvido de alguma maneira pela nossa mente e, com o tempo, esse conteúdo vai moldando nosso subconsciente. Por fim, tudo isso acaba influenciando em nossas ações.
Uma prova disso é que existe uma relação muito grande entre pessoas que vêem TV e outras mídias que expõem publicidades com o grau de consumismo delas próprias. As propagandas são feitas embasadas em muitos estudos para entrarem e permanecerem em nosso subconsciente de modo a criar em nós mesmos a necessidade de comprar o que está sendo oferecido. E esse impacto é muito maior nas crianças por exemplo, por causa da baixo senso crítico próprio que possuem.
O especialista Affonso Henriques Nunes fala um pouco mais a respeito disso em seu artigo, e a leitura deste é quase um tapa na cara.
“O que inquieta é que estes processos circulem livremente entre o público infantil sem que enfrentem resistência. A escola tem dificuldades de lidar com a potência midiática e com o processo crescente de alienação pelo consumo.”
É ilusão acharmos que a transmissão de TV e redes sociais são gratuitos, pois o pagamento pode inclusive ser com dinheiro, porém de forma indireta. Uma vez sendo influenciada, a pessoa tenderá a consumir mais e gastar mais do seu dinheiro com a necessidade criada pela mídia comercial.
A TV, o Smartphone e o Sedentarismo
Também no artigo do Affonso, ele cita o seguinte.
“A televisão também influencia a saúde pública ao afetar os hábitos alimentares de crianças, adolescentes e jovens e tende a torná-los mais sedentários. As taxas de obesidade dessa população crescem na Europa desde a década de 1970. “
A facilidade de chegar em casa e ficar largado na frente da TV e com o celular na mão para passar o tempo é tão grande que acabamos por preferir isso ao invés de procurar outras atividades a realizar, principalmente algo que remeta a atividades físicas. Isso é um perigo para saúde.
Mas a pergunta que fica no ar é: será que estamos consciente do tempo que gastamos na frente redes sociais e/ou uma TV?
Segundo uma pesquisa realizada pela própria rede Globo, com dados de 2016, o brasileiro gasta em torno de 4 horas e 30min por dia na frente de uma TV. Isso dá mais de 30h por semana ou mais de 5 dias completos por mês. É muita coisa!
O portal Social Media Today publicou em janeiro de 2017 um infográfico com algumas estatísticas interessantes.
Segundo a pesquisa, seguindo estatísticas médias de longevidade, um ser humano gasta quase 8 anos da vida só assistindo TV e em torno de 5 anos nas redes sociais.
É de assustar.
A Matemática da Autoestima
Minha maior crítica aqui na verdade é quantidade de publicidade e de informações negativas que é absorvida diante de TV ou internet. Quanto mais publicidade você se expõe, maior a tendência de querer consumir mais e, quanto mais informação negativa você absorve, mais negativo você será.
Se vemos muitas coisas boas, nossa mente acaba sendo moldada por coisas boas. Se vemos muitas coisas ruins, nossa mente é moldada por coisas ruins. A conta é bem simples aqui.
Por isso é importante termos cuidado, pois a TV e até as redes sociais (Facebook, Instagram, etc) podem se tornar uma grande cilada para nossa valiosa autoestima.
Remando Contra a Maré
Se você assiste bastante TV ou fica boa parte do tempo ocioso em redes sociais, conseguiria ficar uma semana sem isso e ao invés, fazer coisas que gosta ou, melhor ainda, começar algo novo?
Ler um livro, andar de bicicleta, fazer um passeio, planejar uma viagem, tirar fotos, tocar um instrumento musical, encontrar com amigos, ligar para alguém que não fala a tempo, subir um mirante, nadar, estudar algo novo, dar aquela corridinha, cozinhar, escrever no seu blog que está a um ano parado (ops), etc.
Só tenho um alerta caso aceite o desafio: pode ser que você queira vender sua TV depois de algum tempo. Risos.
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