O mito do segundo idioma
Um grande sonho de muitas pessoas, principalmente de vários de nós brasileiros, é o de se ter um segundo idioma fluente. Me atrevo a dizer que grande parte pensa primeiramente no inglês, principalmente por este ser praticamente o mais utilizado entre diferentes países ao redor do mundo e também por que é um dos mais fáceis de se aprender.
No entanto, aqui no Brasil não é muito necessário ter um segundo idioma, visto que o português já resolve quase tudo que precisamos e os estrangeiros que residem aqui acabam por conseguir falar português, mesmo este não sendo dos mais fáceis de se aprender.
De acordo com o jornal O Globo, apenas 5% dos brasileiros são considerados fluente em inglês, por exemplo. De fato, são poucos os brasileiros que realmente tem a necessidade de utilizar de um segundo idioma para um fim real (seja profissional ou pessoal).
Naturalmente, a opção mais comum que nós temos enquanto permanecemos aqui no Brasil são as famosas escolas de idiomas que oferecem duas ou três horas de aula por semana e costumam a cobrar um valor bem considerável por isso.
O ponto é, será que essas aulas são suficientes para tornar uma pessoa fluente em um idioma?
A resposta exata eu não sei afirmar, mas em minha opinião essas aulas não são suficientes, principalmente por que é necessário uma enorme quantidade de prática para que uma pessoa possa desenvolver um outro idioma.
As aulas ajudam sim a dar um norte, dar uma base para que a pessoa aprenda a teoria e tenha a condição de praticar o idioma em outras situações. No entanto, penso que ir as aulas ainda não é tudo. No item 5 da lista abaixo falarei um pouco mais a respeito.
Pensando nisso, gostaria de deixar aqui algumas dicas baseadas em minha própria experiência com meu segundo idioma.
1. Saia da zona de conforto
Quando temos a opção de escolher entre nosso idioma nativo ou o segundo idioma, é muito mais agradável e confortável conversar em seu idioma nativo do que no segundo idioma. No entanto, não é o seu idioma nativo que você precisa praticar, mas o idioma extra.
Note que, pensar na situação de escolher entre o idioma extra ou o nativo é diferente de realmente vivenciar esse momento. No pensamento é muito fácil escolher o inglês, mas na hora que você se sente agoniado por não conseguir expressar a sua ideia, se a outra pessoa entende português você vai ter uma vontade incomensurável de continuar o papo em português. No caso, supondo que um brasileiro esteja aprendendo o idioma inglês.
A dica é: insista em continuar no desconforto e continuar a conversa no outro idioma!
Além disso, troque todos os seus dispositivos para o novo idioma (celular, computador, tablet, etc). No início é um pouco chato, mas aos poucos você vai aprendendo a lidar com as novas palavras.
Eu me divirto horrores quando meu GPS começa a me dar coordenadas em espanhol, por exemplo. E de quebra, ainda da pra treinar um pouco o ouvido.
Veja vídeos na internet com a legenda no mesmo idioma (exemplo: áudio em inglês com legenda em inglês) ou, de preferência, sem legenda alguma! Dessa forma você vai ser obrigado a prestar atenção no que as pessoas estão falando no filme, seriado, documentário, etc.
Procure ler coisas no idioma (blogs, livros, textos em geral). Em minha opinião, essa é inclusive a melhor forma de se começar, pois a leitura é uma das habilidades mais fáceis de se adquirir.
2. Evite as pessoas que te corrigem o tempo todo
Sabe aquela pessoa que te corrige sempre enquanto você está conversando com ela utilizando o seu idioma extra? Apesar de ela saber que você está aprendendo, que está se esforçando e as vezes até sabe que você está estudando, a pessoa insiste em te interromper e corrigir o tempo todo enquanto você só gostaria de expressar a sua mensagem.
A dica é: fuja dessa pessoa, ela é muito chata!
A comunicação é estabelecida quando você é capaz de expressar a sua mensagem para uma ou mais pessoas e também quando você consegue entendê-la(s). Só isso.
Muitas vezes a pessoa te entende, sabe o que você quer dizer e ainda insiste em te corrigir, mesmo percebendo que você acha isso muito irritante.
3. Sabe essa pessoa chata citada acima? É muito importante que você não se torne uma delas
Vamos lá, sem hipocrisia, né.
Se alguém esta conversando com você utilizando um segundo idioma dela e você consegue captar a mensagem, ignore os erros de pronúncia e gramática. Se a pessoa quiser um feedback sobre a sua própria utilização do idioma, ela vai te pedir.
4. A regra é: fale, fale bastante, fale muito, fale o máximo que puder, independente se estiver certo ou estiver errado
Uma verdade é que nós mesmos somos capazes de perceber a maioria dos nossos erros logo após falarmos algo de errado em algum idioma que estamos aprendendo.
Outro fato a respeito é que as pessoas mais desinibidas adquirem resultados mais rápidos ao se aprender um novo idioma, justamente por que não tem muita vergonha de falar algo errado. Por isso, acabam praticando muito e conseguindo evoluir mais rapidamente do que as pessoas mais tímidas e retraídas.
E se você se considera uma pessoa tímida ou retraída, não pense que aprender um novo idioma está fora de seu alcance. Cada um possui a sua própria curva de aprendizado, uns aprendem mais rápido e outros mais devagar. A questão é que todos nós somos capazes de aprender se respeitarmos as nossas próprias limitações e, de preferência, lutarmos contra a nossa zona de conforto e quebrar nossos próprios recordes.
Em resumo, assim como qualquer outra habilidade que você gostaria de adquirir, no idioma extra a regra não é diferente. É preciso praticar, e praticar muito!
E quando eu digo que é para falar muito, isso não quer dizer que você deve fazer um monólogo com alguma pessoa, mas sim desenvolver uma conversa equilibrada, onde você fala bastante e também escuta bastante.
5. Se possível, vá morar num país cujo o qual o seu idioma nativo é o mesmo em que você gostaria de aprender
Vamos pensar em alguns números bem simbólicos.
Se você faz duas aulas de idioma por semana, cada uma de uma hora, isso daria aí uma aproximação de 8 horas de prática por mês e 96 horas de prática por ano.
No caso de morar em país em que você não tem outra opção a não ser utilizar o idioma local, vamos supor por baixo que você precise utilizar o idioma durante 8h por dia. Em apenas 12 dias você pratica o que você iria praticar durante todo o ano apenas nas aulas de inglês. Entende a diferença?
Importante frisar que as aulas de idiomas são interessantes sim! O meu ponto é que, de fato, somente elas não são suficientes. É preciso ir além das aulas para desenvolver bem as habilidades de um novo idioma.
Infelizmente nem todos têm essa oportunidade ou condição financeira de realizar um intercâmbio. Mas e aí? O que faço então?
Lembrem-se que hoje temos a internet. Hoje é possível fazer cadastro em grandes redes sociais (como Duolingo, Busuu, My Happy Planet, etc.) e interagir com pessoas ao redor do mundo inteiro com o mesmo objetivo que o seu: praticar um idioma, seja ele qual for!
Além disso, é possível hospedar pessoas de diferentes nacionalidades em sua casa através das rede social Couchsurfing ou até mesmo pelo Airbnb. Essas são possibilidades incríveis de obter experiências diferentes. É como se você fizesse um intercâmbio sem sair de casa.
Só peço que lembre-se de desistir de preconceitos e aprender a lidar com diferenças. Em caso contrário, esse tipo de experiência certamente não é indicado para você.
6. De nada vale muita boa vontade sem atitude
Concluindo, para realmente se aprender um novo idioma, basta apenas um pouco de planejamento e o mais importante: atitude, muita atitude. Não existe objetivo que se realiza ou sonho que se concretiza sem atitudes serem tomadas.
Ah, e se você tem dúvidas quanto ao seu nível atual em algum idioma, tente contar uma piada para alguém nesse idioma. Se a pessoa rir, você realmente já tem um bom conhecimento no mesmo. Risos.
Conhecimento nunca é demais
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