O Início dos Sonhos

A realização do primeiro sonho

Desde pequeno eu ouço falar que a vida é feita de sonhos. Então, enquanto eu era ainda criança eu vivia no mundo da lua. Até demais, diga-se de passagem. No entanto, não fazia a mínima ideia de como unir meus sonhos com minha realidade e, por isso, eu era apenas um passageiro da minha própria vida. Sorte que, durante essa época meus pais me guiaram por um ótimo caminho, me fazendo estudar e me ensinando coisas importantes da vida.

Estudei muitos anos em uma escola conceituada de minha cidade. Para ser mais preciso, até o meio do segundo ano do ensino médio, quando precisei deixar a escola particular para evitar uma certeira reprovação. Daí, depois de estudar durante 11 dos 16 de minha vida em uma mesma escola, fui parar em um colégio estadual, o João XIII, em que a qualidade do ensino era consideravelmente inferior, mas a “aprovação” no fim do ano era certeira. Na época, fiquei muito assustado e não muito feliz. Mas logo alguns meses após já fiz amigos e me adaptei bem. Alguns anos depois, fui perceber que foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida naquele momento.

Um dia, no meu terceiro e último ano do ensino médio em 2004, já no João XIII, a professora de literatura, Marli se não me engano, passou para a minha turma um vídeo de apresentação da Universidade Federal de Viçosa. Esse vídeo era nada mais que um convite para incentivar nós alunos a fazer parte daquele universo de conhecimento acadêmico e de vida. Foi a mesma coisa que mostrar um pote de 5kg de Lego para uma criança. Nesse momento, eu comecei a conceber meu primeiro sonho como um objetivo de vida e, aos poucos, fui aprendendo a transformar esse sonho em realidade.

O primeiro passo foi recusar a vontade de minha mãe de eu estudar ali pertinho dela em uma faculdade particular, em que fui aprovado no vestibular logo que me formei no terceiro ano do ensino médio. Não foi fácil, principalmente para ela, ouvir que eu queria ir para longe. Que eu queria ir para Viçosa. Isso sem contar em um primo que já morava lá e me ligava todos os finais de semana me contando das presepadas de Viçosa e me mandando estudar para que eu fosse aprovado no vestibular e nós montássemos uma república por lá. Eis o Sr. Vínicius, apelidado assim na época. A idéia parecia ótima e era quase surreal para a minha realidade naquele momento. Enfim, foram dois anos difíceis enfiado em apostilas de cursinho e conciliando estudo com pressão, desânimo, ansiedade, determinação, aflição, medo de perder de novo e vontade de vencer. E venci. Realizei então meu primeiro grande sonho: ser aprovado na UFV no curso de Ciência da Computação e montar uma república com meu primo.

O segundo sonho é sempre mais audacioso

A partir daí, adquiri um sonho infinitamente mais audacioso do que entrar na faculdade:  sair dela. E claro, com um diploma nas mãos. Eis que começa uma outra labuta.

Só quem passou por isso pra saber o que é estudar por noites em claro para fazer prova logo no outro dia cedo, fazer 3 provas em um dia apenas com mais duas marcadas para o dia seguinte, encaixar aquela ida no Leão na quinta feira no meio das provas para não explodir a cabeça de tanto cálculo, entre outros perrengues. Enfim, realmente não foi fácil. Mas mesmo assim, posso dizer seguramente que foram os melhores 5,5 anos da minha vida. Até ontem. Risos. Até que um dia, eu abro o minha conta no SAPIENS (sistema acadêmico da universidade), o sistema cujo o qual eu mais tive medo durante a faculdade, e ele me mostra a melhor notícia que eu podia receber até então: que eu fui aprovado em minha última disciplina  com a bela nota azul de 64, e que por sinal era a bendita da Física 3, considerada uma das mais difíceis da graduação. Foi o dia mais feliz desde o início da minha faculdade. Eu acabava de realizar meu segundo grande sonho.

A celebração da vitória

Então, reuni minha família e a maioria dos meus melhores amigos, que felizmente são muitos, bebemos bastante e comemoramos muito, bebemos mais um pouco e vibramos juntos. Inclusive, pra quem não tem total lembrança desses dias, é só me procurar que eu tento reconstituir os fatos com meu álbum de formatura. Até porque, eu também não lembro de tudo. Mais risos. Bom, depois de formado, eu tive um objetivo a curto prazo: ficar financeiramente livre do meu pai, que rapidamente consegui quando recebi um convite para trabalhar na Cientec, onde tinha realizado meu estágio de graduação.

Fazendo um parênteses, para o meu pai não foi tão rápido assim. Depois de formado enrolei uns 3 meses para realmente correr atrás de um emprego decente. Isso porque um dia meu pai me perguntou pela décima quarta vez como estava a minha procura por emprego. Mas dessa vez ele ameaçou a cortar minha “mesada” e me trazer de volta de Viçosa. Resultado: eu arrumei um emprego com uns 5 dias. Risos.

O primeiro trabalho e o terceiro grande sonho

Voltando, à linha de raciocínio, consegui então minha independência financeira. Paguei algumas pequenas dívidas que eu possuía e fiquei livre do meu “paitrocínio”. Por sinal, me senti completamente realizado quando recebi meu primeiro salário e consegui pagar todas as minhas contas sozinho. É uma sensação muito interessante e satisfatória, de liberdade e independência. Só que, apesar de eu já estar formado e trabalhando, me faltava algo ainda. Me faltava algum sonho, algum novo sonho para eu correr atrás. Naquele momento eu não sabia onde eu queria chegar. Após alguns dias eu comecei a sismar com um intercâmbio. Realmente era algo que me instigava muito, e que por ene fatores, eu não pude nem cogitar realizar durante minha graduação, apesar de acompanhar as fotos e histórias fantásticas de vários amigos que foram para fora do Brasil estudar, trabalhar, passear e voltando com outro idioma na ponta da língua. Daí, me lembrei de vários amigos que foram para Dublin depois de se formarem e pesquisei sobre a cidade e sobre a Irlanda. Algumas semanas depois, estava pronto, fechei um trato comigo mesmo então, meu próximo sonho era realizar um intercâmbio para Dublin, Irlanda, Europa.

Quando fiz a entrevista de emprego, os diretores me pediram para que eu ficasse ao menos um ano na empresa para que o investimento em mim com treinamentos fosse compensado. Sendo assim, pensei: vou ficar logo dois anos. Vai ser tempo suficiente para eu dar o retorno à empresa e também para eu juntar meu dinheiro e realizar meu sonho que acabara de sair do forno. Resultado: em fevereiro de 2013 eu já sabia que em dezembro de 2014 eu iria sair do meu emprego que acabara de começar e em início de 2015 eu partiria rumo à Irlanda.

E assim eu fiz. Foram dois anos trabalhando duro igual um caixeiro viajante. Foram muitas viagens para São Paulo, Belo Horizonte, Rio Pomba, Rio de Janeiro, Vitória, Itajubá, Lavras, entre outras nos finais de semana. Foram aproximadamente 43 mil kilômetros rodados em dois anos. Apesar de ter sido um trabalho pesado, principalmente pelas viagens e por ter de fazer de hotéis o meu lar, deu para aprender muito. Muito mesmo.

O planejamento de metas

Estabeleci então uma meta financeira, pois era o que eu precisava, a princípio. Até dezembro de 2014 eu precisava estar com uma quantia estimada como necessária para eu realizar meu sonho. E essa foi uma parte muito difícil de cumprir. Era natural eu ver vários amigos que formaram comigo comprando carro (que por sinal é um sonho meu antigo, mas cuidadosamente postergado), realizando pequenos e interessantes passeios, comprando roupas bacanas e dispositivos interessantes de tecnologia (celulares, computadores, etc), que eu não poderia me dar ao luxo, pois meu dinheiro precisava ir para a poupança. Enfim, confesso que me privei de bastante coisa, mas sempre com um foco claro na cabeça, que era meu sonhado intercâmbio. Realizar esse tipo de atitude com um foco claro na cabeça realmente torna o resultado positivo mais provável, mas isso não quer dizer que o caminho é sempre tranquilo. Me contenho em dizer que tive momentos bem difíceis nessa jornada, mas jamais perdi meu foco.

Mão na massa

Em julho de 2014, comecei a tomar algumas providências, tomar algumas atitudes para a realização do meu objetivo. Por sinal é apenas esse o segredo: são nossas ações, e só as nossas ações, que podem transformar nossos sonhos em realidade. Não existe alquimia. E não confie na Mega Sena. É mais provável que dois reais por semana aplicados em uma poupança te deixe mais rico do que acertar os seis números “mágicos”.

Enfim, depois de obter alguns conselhos de amigos experientes, apenas confirmei minha decisão de ir para Dublin, e comecei a realmente tomar atitudes. A primeira delas foi comprar o curso de inglês na Irlanda. Dá um frio danado na barriga, pegar uma grana considerável, que demorei meses para juntar, e depositar na conta bancária de uma agência que conheci pela internet. Mas é assim, temos que acostumar com essas modernidades da vida. Só pra constar, claro que eu fiz inúmeras pesquisas concisas sobre a escola e sobre a agência em que eu fechei o contrato (curiosidade: eu estava para fechar com outra agência e desisti, porque minhas pesquisas acusaram referências negativas da mesma. Meses depois, descubro que a escola irlandesa em que eu estou matriculado rompeu contrato com essa agência que eu desisti de fechar por elevado número de reclamações da mesma, ou seja, minhas pesquisas foram eficazes). Curso de inglês comprado, passagens compradas, “transfer”, acomodação por 14 dias, seguro governamental, tudo ok.

A hora em que a ficha caiu

Eis que me dei conta de uma coisa: eu estava indo para um país diferente, pra uma cultura diferente, com um idioma diferente, sozinho. Eu, e eu mesmo. Parece bonito isso, mas quando eu caí na real foi um tanto quanto, digamos, desesperador. E aí, recorri ao meu fiel escudeiro: o Google. Procurei incansavelmente por pessoas que estavam indo também para Dublin na mesma época que eu. Só pra resumir, começamos a nos conhecer, criamos um grupo de Whats App e hoje já somos umas 50 pessoas, cada um de um canto do Brasil, e todos esses são tão bobos tanto quanto eu (ou mais. Talvez menos.) e me deixaram muito tranquilo, pois ali tive certeza que não ficarei sozinho lá fora como imaginei a princípio.

O ponto é que, algum tempo depois criei coragem e dei meu aviso prévio, saí da empresa, fechei minha conta na minha querida Viçosa, depois de 9 anos de morada, e retornei à Ipatinga para planejar com tranquilidade a realização da minha viagem, assim como planejei desde o princípio. Por sinal, nesses dois meses eu aproveitei e tirei umas férias. E foi ótimo.

A partida para a Ilha Esmeralda

Bom, concluindo, hoje é dia 12 de Fevereiro de 2015, o dia do meu embarque para a realização do sonho que eu concebi a exatos dois anos atrás, e eu estou aqui sentado numa poltrona de avião, ao lado de uma amiga que fiz na
internet e que acabei de conhece-la pessoalmente, indo morar com desconhecidos em um país distante situado em outro continente. Um belo avanço pra quem nunca passou muito além da praia de Guarapari/ES, se tratando de viagens pessoais. 

E não poderia deixar de agradecer à todos que me ajudaram, que me apoiaram nessa ideia maluca desde sempre. E que foram muitos. Em especial, à minha família. Esse ano promete ser um ano muito bom, apesar de que certamente a saudade vai apertar em vários momentos. 

Enfim, essa é a estreia desse meu blog pessoal, e espero conseguir compartilhar com vocês algumas ideias, opiniões e aventuras que virão daqui para frente.

 

Ps.: Pai, lembra do livro que eu te dei? Mar sem fim, Amyr Klink. Não foi à toa.

 

embarque-madrid

“Seguir viagem, tirar os pés do chão

Viver à margem, correr na contramão

A tua imagem e perfeição

Segue comigo e me dá direção

Se dizem que é impossível

Eu digo: ! é necessário !

Se dizem que estou louco

(fazendo tudo ao contrário)

Eu digo que é preciso

Eu preciso… é necessário

Seguir viagem, tirar os pés da terra firme

E seguir… viagem

Seguir viagem, tirar os pés do chão

Outros ares…sete mares…voar…mergulhar

O que nos dá coragem

Não é o mar nem o abismo

É a margem, o limite e sua negação

Se dizem que é impossível

Eu digo: !é necessário!

Se dizem que é loucura

(eu provo o contrário)

E digo que é preciso

Eu preciso…é necessário

Seguir viagem, tirar os pés da terra firme

E seguir… viagem”

Seguir Viagem

Engenheiros do Hawaii

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